terça-feira, 12 de julho de 2016

As diversas abordagens de ensino: Abordagem Sociocultural

Olá, este é o último post da série “As diversas abordagens de ensino” e trataremos da abordagem sociocultural. Leia a seguir!!

Paulo Freire é o autor que recebe destaque (foto abaixo).


Paulo Freire freire tem obras que tratam da vertente sócio-político-culturais de forma mais contextualiza e preocupada com a cultura popular nacional. Esta preocupação surge no fim da Segunda Guerra Mundial, e o movimento, no caso do Brasil, é focado nas camadas sócio-econômicas inferiores, com a tarefa de alfabetização do adulto. Assim essa abordagem promove ações a partir do que é relevante ao povo, porém sem oferecer conceitos prontos, e sim materiais que são pertinentes a tal camada social, desta forma, espera-se que o indivíduo possa, por si só, assumi-las e não consumi-las.

Considera-se tanto o homem quanto o mundo por ser uma abordagem interacionista, entretanto o sujeito é quem elabora e cria o conhecimento. Além disso, entende-se a educação como válida a partir do momento em que ela considera a vocação do sujeito e seu contexto, pois mulheres e homens se tornarão sujeitos quando refletirem sobre o ambiente em que vivem, onde a reflexão torna possível a conscientização e a tomada de ação, pelo sujeito, para intervir sobre sua realidade de forma autônoma.  Portanto toda ação educativa é em benefício do próprio indivíduo e não uma formação ou adaptação do mesmo à sociedade e seus pré-supostos, e isso se da por meio das práxis, consideradas por Paulo Freire como ação e reflexão dos homens e mulheres sobre o mundo, com o objetivo de transformá-lo, possibilitando a consciência crítica e libertação do sujeito.

Mulheres e homens cultivam e criam a cultura ao instituir relações a partir de situações como: interações, incorporação e critica, logo é uma aquisição sistemática das experiências humanas, pois esta será crítica e criadora e jamais um armazenamento de informações acumuladas. Já a participação do indivíduo como sujeito na sociedade, na cultura e na história é por meio da conscientização, anulando a mitificação. A mitificação da realidade é feita pelo opressor, e o oprimido é aquele que aceita essa realidade mítica sem conseguir criticá-la, e é essa distorção que mantém a realidade da estrutura dominante.

A percepção da situação-limite (aquilo que oculta temas) possibilita, através da reflexão, que o sujeito transcenda o que existe além dela, diferente daquele que se resume a temer essas possibilidades e anula a realização das mesmas, sejam elas quais forem. Para que ocorra a humanização (conscientização de sua inclusa no objeto, mundo, junto a outros sujeitos) é necessário superar as situações limites.

No caso da sociedade Latino-americana e sua história a escola é um instrumento de manutenção dos sujeitos que não superam as situações-limite, logo uma sociedade objeto, onde o pensamento é dissociado da ação. Homens e mulheres alienados são atraídos pelo estilo de vida da sociedade dominante e se distanciam do seu mundo real, onde as possíveis reflexões e pensamentos do individuo objeto são, na verdade, reflexo do pensamento das sociedades dominante, porém a sociedade dominante também peca nesse sentido, pois acreditam na infalibilidade de seu pensamento.

O processo de transição dessa sociedade considerada fechada dá inicio a um dinamismo em todas as partes referentes a vida social, isso a partir das contradições existentes nesse sistema, que já não contempla a realidade, e essas etapas são caracteriza como períodos históricos, pois diante de uma Democracia autêntica os indivíduos não devem se reduzir a objetos do poder ou governo, pois são co-gestores.

O individuo é constantemente desafiado e, ao decorrer disso, ele responde de diferentes formas, onde a resposta modifica a sua realidade e a si mesmo. O conhecimento é constituído a partir do pensamento e prática e o processo de conscientização é sempre inacabado, ou seja, é o constante desvendamento e critica da realidade e aproximação epistemológica do objeto em análise.

A ação educativa, por definição, deve ser feita por meio da reflexão sobre o individuo e de uma análise de seu contexto, assim mulheres e homens nessa afirmação passam a serem sujeitos educadores. Quando a ação não é constituída de reflexão ela resulta num método que torna o individuo objeto, assim como a ausência da análise do meio implica na realização de uma educação pré-fabricada e não direcionada ao individuo. Vendo isso, é preciso que se faça da conscientização o primeiro objetivo da educação. É possível ainda afirmar que a educação não é neutra, pois a ação educativa ou é libertária ou contribuiu para a domesticação dos homens e mulheres. Portanto a educação é o fator base na transição da conscientização primitiva para a conscientização crítica, que, por sua vez é continuo.

Nessa concepção a educação não se restringe a escola e nem a educação formal, porém ela esta incluída entre os espaços de aprender, entretanto estamos falando de um crescimento ambilateral, tanto do professor quando do aluno, pois o sujeito pode assumir os dois papéis no processo de conscientização. Para Paulo Freire a escola é uma instituição inserida num contexto histórico de certa sociedade, para compreender seus fenômenos e sua existência é preciso estudar como o poder é definido na sociedade e por quem ele esta atuando. 

A situação de ensino-aprendizagem nessa vertente deve superar a relação opressor-oprimido, e para isso ser realizado é necessário que haja: o próprio reconhecimento como oprimido, engajamento nas práxis libertadoras, também por meio do dialogo, pois ele proporciona a percepção da realidade opressora, solidarizar-se com oprimido, ou seja, entender sua situação e lutar para superá-la; e transformar as situações que geram opressões. Assim a educação problematizadora é o que ajudará na superação da relação opressor-oprimido, pois esta desenvolve a consciência critica e liberdade a fim de superar as contraditórias educações bancárias (autoritarismo, intelectualismo alienante e falsa consciência).

A relação professor-aluno tem que ser horizontal, e jamais imposta, pois num processo educacional real o educador também assume o papel de educando, assim como o educando pode também tornar-se educador. Quando um professor está engajado em numa prática transformadora, ele procura sempre o questionamento e a desmistificação do estudante diante da cultura dominante, e valoriza a linguagem e cultura deste, promovendo condições para que os estudantes por si só, e com propriedade, analisem seu contexto. Tem que haver preocupação individual com cada um dos estudantes, com o processo e não com o produto da aprendizagem academicamente padronizada.  

Neste método é feito uma codificação inicial, um recorte de uma situação existencial real ou construída pelos estudantes, isso proporciona o primeiro exercício de distanciamento dos objetos já conhecidos e delimitados, buscando a reflexão conjunta ente professor e estudante criticando seu contexto. Essa codificação é como o indivíduo interpreta a sua realidade, e agora ela passa a ser o objeto de estudo e análise, pois essa busca por um tema gerador preza objetivar realidades, permitindo sua práxis e, caso isso seja feito constantemente, é possível alcançar um profundo nível de conscientização e crítica.

Além disso, as interações permitem que o indivíduo influa sobre o espaço-tempo, assim como ele também é tocado por esse meio. Transportando isso para este método, Paulo Freire entende que é por meio do debate e do diálogo, relação horizontal entre pessoas, que surge o conteúdo programático da educação, onde a palavra é ação e reflexão. Entretanto é preciso saber que quando temos a palavra separada da ação ela é apenas verbalismo, quando só existe a ação sem reflexão é ativismo e a ação só pela ação impede o diálogo. Como exemplo, na alfabetização, a educação problematizadora busca investigar a palavra geradora e após a alfabetização, busca temas geradores.

A avaliação nesta abordagem consiste na auto-avaliação e/ou avaliação mútua e constante da prática educativa por professor e aluno. Nesse contexto as avaliações formais perdem o sentido, pois se assume que tanto o professor quanto o aluno identificarão suas dificuldades e seus progressos, pois a avaliação é a ação educativa e não um recorte dela.


Você conhecia esta abordagem e suas características? Deixe seus comentários, perguntas e críticas. É importante essa interação!!

A próxima postagem será diferente, não perca! Até mais!!




Referência: MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. Editora Pedagógica e Universitária, 1986.

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